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Mulheres Inspiradoras Do Mundo Dos Vinhos: Madame Clicquot

Mulheres inspiradoras do mundo dos vinhos: Madame Clicquot

Os espumantes da região de Champagne são rótulos caríssimos, reconhecidos por seus minuciosos métodos de vinificação e qualidade em taça – porém, nem sempre foi assim. Até o século 19, essas bebidas se tratavam de pequenas produções que ainda estavam em desenvolvimento.

Foi graças a Madame Clicquot, uma importante mulher de negócios francesa, que os vinhos de Champagne alcançaram sua fama no mundo todo. Suas decisões formaram um legado seguido por muitos enólogos até os dias de hoje.

Leia nosso post e descubra a história da “dama da Champagne”, uma importante personagem para o mundo dos vinhos!

Quem foi Madame Clicquot

Nascida em 1777 e batizada como Barbe-Nicole Ponsardin, era filha de um importante político e empresário do ramo têxtil da cidade de Reims, no norte da França. Por sua posição social, teve acesso a uma boa educação, conforme os padrões e costumes da época.

Vale lembrar que entre 1789 e 1799, a França viveu um período conturbado, mais especificamente, a Revolução Francesa. Durante esses anos, grupos radicais depuseram as principais instituições (monarquia, aristocracia e clero), moldando o que viria a ser a política moderna. A família Ponsardin foi apoiadora do movimento.

Em 1798, Barbe-Nicole casou-se com François Clicquot. O casamento fora arranjado por ambos os pais, que eram empresários franceses, como forma de fortalecer a influência das famílias.

madame clicquot

Retrato de Madame Clicquot, por Léon Cogniet.

Após o casamento, François pôde assumir um dos negócios de seu pai: a pequena vinícola Clicquot-Muiron et Fils, que produzia entre 4 mil e 7 mil garrafas de vinho por ano. Determinado, ele consegue multiplicar a produção em quase 10 vezes, vendendo cerca de 60 mil rótulos anualmente em 1804.

Em outubro de 1805, sete anos após seu casamento, François morre aos 30 anos, deixando a esposa Barbe-Nicole e uma filha de 6 anos, além de um negócio promissor e em constante expansão.

A empresária Madame Clicquot

Viúva aos 27 anos e desolada pela morte de seu marido, Barbe-Nicole, agora conhecida como Madame Clicquot, decide assumir a administração da vinícola. Vale lembrar que, de acordo com a legislação da época, as mulheres não eram permitidas de trabalhar, votar, ganhar dinheiro ou estudar em universidades.

Durante os anos seguintes, ela passa a estudar os processos de vinificação, com o intuito de aumentar o crescimento da vinícola. À época, recebeu consentimento e apoio financeiro do sogro, que investiu em seu potencial.

No ano de 1811, durante as Guerras Napoleônicas, a França vivia uma grande crise, e a vinícola estava prestes a declarar falência. Para evitar que isso acontecesse, Madame Clicquot identificou que os vinhos de Champagne mais doces faziam grande sucesso na Rússia e resolveu investir nesse mercado.

O grande problema foi que, graças aos conflitos, havia um bloqueio marítimo que impedia que seus vinhos chegassem à Rússia. Decidida, ela envia um carregamento até Amsterdã, onde as garrafas ficariam armazenadas até o fim da guerra, que estava próximo.

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Em pouco tempo, a paz foi estabelecida e os vinhos de Madame Clicquot desembarcaram na Rússia, chamando a atenção da população local, inclusive do Czar Alexandre I.

O sucesso foi tamanho que as demandas aumentaram a ponto da vinícola não conseguir mais supri-la. Nesse momento, Clicquot teve que fazer mudanças para que o negócio acompanhasse esse crescimento.

A invenção do método remuage

À época, a segunda fermentação de uma Champagne funcionava da seguinte forma: as leveduras e o açúcar eram adicionados à garrafa para originar as borbulhas do espumante. Após a reação, entretanto, os sedimentos ficavam na garrafa, deixando-a feia e pouco apetitosa.

Para resolver esse problema, os vinhos eram transferidos de uma garrafa para outra, eliminando os restos das leveduras. Esse processo, porém, era caro, demorado e prejudicava o resultado final da bebida.

Foi então que Madame Clicquot criou um método para resolver esse problema. Batizado de “remuage”, consistia em deixar a garrafa tampada e virada para baixo em um ângulo de 45 graus, e rotacioná-la levemente para que a pressão eliminasse os excesso de leveduras.

Em um período entre quatro e seis semanas, as garrafas eram viradas até 25 vezes, em rotações de ⅛ a ¼. Clicquot ensinou a técnica a todos os funcionários da vinícola, e assegurou-se que o método permanecesse em segredo.

Novamente, seus vinhos se destacariam, e além de seu poder de negociação e da qualidade da bebida, agora podiam ser produzidos muito mais rápido, se destacando da concorrência.

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Garrafas dispostas de acordo com o método remuage.

Legado

Até sua morte, em 1866, Madame Clicquot exportava vinhos para o mundo todo, incluindo Lapônia, Rússia e Estados Unidos. Isso foi determinante para a popularidade da Champagne e até mesmo para o crescimento da indústria mundial de vinhos.

A vinícola em que esteve à frente foi rebatizada como Veuve Clicquot, ou “viúva Clicquot”, como era referida. Está em funcionamento até hoje, com quase 250 anos de existência e produzindo rótulos renomados.

Clicquot construiu sua história em um período em que havia uma série de proibições de direitos civis às mulheres. À época, era impensado que alguém do gênero feminino assumisse papéis na sociedade como empresária ou inventora.

Hoje, há uma série de sommeliers e enólogas que trabalham diariamente com vinhos, inspiradas pelo legado de Madame Clicquot.

Além disso, a invenção do remuage possibilitou o aumento na produção de vinhos e é utilizado até hoje para a elaboração de espumantes. Seus métodos de negociação também são base para muitos produtores que buscam expandir a influência de suas vinícolas.

A viúva Clicquot permanece até hoje como uma importante personagem na história dos vinhos. Seus esforços possibilitaram o desenvolvimento da indústria vitivinífera e rendem frutos até hoje das mais diversas formas.

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Flávia

Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!

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