Guia completo: saiba tudo sobre os vinhos espanhóis
Se fosse possível definir os vinhos espanhóis com apenas uma palavra, seria tradição. Foi no país ibérico que surgiram importantes uvas, formas de classificação de rótulos e técnicas de vinificação.
Além disso, a Espanha se destaca por seu terroir característico, apreciado no mundo todo. Hoje, trata-se do terceiro maior produtor mundial de vinhos, atrás apenas de Itália e França, gerando um volume de quase 4,4 bilhões de litros da bebida anualmente.
Pensando nisso, elaboramos um conteúdo para guiar você em uma jornada pelos principais fatores que definem os vinhos espanhóis. Aproveite a leitura!
História dos vinhos espanhóis
O início da vinicultura na Espanha está diretamente ligado à história do vinho de Jerez , uma importante variedade produzida no país. Calcula-se que por volta do ano 1.100 a.C, a civilização fenícia (que habitava a região) começou a desenvolver vinhos a partir de uvas locais.
Posteriormente, durante o Império Romano (até o ano 395 d.C.), as bebidas produzidas na região hispânica ganharam reconhecimento, sendo exportadas e trocadas por todo o velho continente. Plínio, o Velho, naturalista considerado o primeiro crítico de vinhos da história, fazia referência em seus escritos à qualidade dos rótulos vinificados na Catalunha.
A produção se estagnou durante os séculos seguintes graças à invasão dos mouros, que proibiram o consumo de álcool no território. A vinicultura só seria retomada anos depois, durante a reconquista da Península Ibérica, por volta do ano 1200.
Nos séculos seguintes, o vinho Jerez se tornou um artigo valioso, sendo exportado principalmente para a Inglaterra. Isso possibilitou o crescimento da produção vinícola espanhola por muitos séculos.
Na era da colonização do continente americano, durante os séculos 17 e 18, a Espanha passou a exportar vinhos para suas colônias como forma de expandir ainda mais o mercado de vinhos.
Os vinhos espanhóis só veriam uma crise no século 19, quando uma praga chamada filoxera afetou toda a Europa, dizimando boa parte das vinhas do continente.
Nos anos seguintes, a produção foi sendo retomada aos poucos, e os vinhos espanhóis só ganhariam fama novamente por volta da década de 1970, graças a uma excelente safra da região de Rioja.
Hoje, há por volta de 1,2 milhão de hectares de vinhas na Espanha, e o país ocupa a terceira posição entre os maiores produtores de vinhos do mundo, com 4,5 bilhões de litros por ano. Desses, cerca de 1,9 bilhão é exportado para outros países, como Itália, Alemanha, França, Portugal e Brasil.
Uvas espanholas
Parte do sucesso dos vinhos espanhóis se deu graças a castas importantes que se desenvolveram na região. Algumas delas estão entre as mais cultivadas do mundo, e são símbolo da qualidade dos rótulos do país.
Tempranillo
É impossível falar de vinhos da Espanha e não citar a uva Tempranillo. Apesar de não ser originalmente do território hispânico, se adaptou perfeitamente ao terroir da região de Rioja, e hoje é símbolo das bebidas locais.
A cepa ocupa o terceiro lugar entre as mais cultivadas no mundo, e dos 231 mil hectares totais plantados, mais de 200 mil estão na Espanha, sendo a principal uva tinta do país.
Com corpo médio, os vinhos Tempranillo são carregados em taninos e acidez, e apresentam aromas de frutas vermelhas, e eventuais notas de pimentão vermelho e tomate. Quando envelhecidos, também trazem características de frutas secas, madeira, tabaco e ervas.
Airén
Mesmo a Tempranillo sendo a principal cepa tinta da Espanha, ela não é a mais cultivada do país. Essa posição é ocupada pela uva Airén, que se estende por mais de 215 mil hectares no território hispânico.
Os vinhos feitos dessa uva são brancos de intensidade média, com pouca acidez e sem presença de taninos. São bebidas para consumo jovem, com aromas de frutas brancas, tropicais, cítricas e flores.
Albariño
A uva Albariño surgiu às margens do rio Minho, que se estende desde a região da Galícia, na Espanha, ao Norte de Portugal (onde é chamada de Alvarinho). Enquanto no país lusitano ela é conhecida por compor o Vinho Verde, em terras espanholas ela gera vinhos brancos leves com bastante acidez.
Uma característica interessante que deriva diretamente de seu terroir próximo do mar são os aromas e sabores levemente salgados. Também é comum que apresente notas de melão, nectarina e frutas cítricas.
Verdejo
É a uva símbolo da região de Rueda, é exclusivamente espanhola e gera vinhos com corpo bastante leve, similar a Sauvignon Blanc e Pinot Grigio. Sua principal característica é a acidez bem presente no paladar.
Ao contrário de outras uvas brancas, a Verdejo não apresenta dulçor no paladar, e seus aromas são majoritariamente de frutas cítricas e brancas, e ervas como funcho e endro. Quando envelhecido em barrica, desenvolve notas de castanhas, e uma acidez levemente frisante.
Outras uvas
Além dos frutos citados, há outras uvas notáveis na produção de vinhos da Espanha. Os vinhos Jerez, por exemplo, são feitos a partir de três variações: Palomino, Moscatel de Alexandria e Pedro Ximénez.
Outras uvas notáveis produzidas no país são Cayetana Blanca, Xarello, Bobal e Garnacha.
Classificação de vinhos espanhóis
Uma característica dos vinhos espanhóis que se diferencia muito de outros países é a classificação. No país, ela está diretamente atrelada ao tempo de estágio que a bebida passa na vinícola antes de ser comercializada.
Joven
Como o nome sugere, são vinhos que são comercializados ainda jovens, geralmente no ano presente ou seguinte da colheita. Além disso, raramente apresentam estágio em barrica, justamente por esse pouco tempo em que são colocados no mercado.
Roble
Trata-se da classificação mais simples dos vinhos barricados espanhóis. Obrigatoriamente, devem ter até seis meses de estágio em barrica.
Crianza
Os vinhos Crianza, seguindo a regulamentação espanhola, devem passar por um estágio de, no mínimo, dois anos. Além disso, de um total de 24 meses, ao menos seis devem ser em barrica de carvalho.
Reserva
A lógica dos vinhos Reserva é similar à dos Crianza, porém com prazos diferentes. O tempo mínimo de estágio é 36 meses, e desses, 12 devem ser em barrica de carvalho.
Gran Reserva
Por fim, os vinhos Gran Reserva devem ficar por 60 meses na vinícola, e pelo menos 18 em barrica de carvalho. Graças a esse maior prazo, são mais difíceis de serem encontrados.
Lembrando que essas classificações podem aparecer em rótulos de outros países, porém não se aplicam as mesmas regras. Um Reserva chileno ou italiano, por exemplo, não passa pelo mesmo tempo de estágio que um vinho espanhol.
Os vinhos espanhóis têm se destacado cada dia mais. Os anos de história e tradição na viticultura refletem diretamente na qualidade em taça, resultando em bebidas com características marcantes no olfato e no paladar.
Quer conferir a seleção do Divvino de vinhos da Espanha? Clique no banner abaixo!
Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!