
Tudo o que você precisa saber sobre o vinho Chianti
Poucos vinhos representam tão bem a tradição italiana quanto o Chianti. Produzidos na região central da Toscana, eles são, hoje, apreciados no mundo todo e gratificados nas principais premiações do nicho. Ele combina história, terroir e um estilo inconfundível que atravessa séculos.
Neste guia, você vai descobrir desde a origem do nome até as características que definem o Chianti, passando por suas diferentes classificações, curiosidades e dicas de harmonização para aproveitar ao máximo cada gole. Boa leitura!
Chianti: região central da Toscana
Antes de mais nada, vamos nos situar no mapa da Itália e entender a origem do nome desse tipo de vinho. Diferentemente do que muitos pensam, Chianti não é o nome de uma uva, mas de uma região na Toscana (pronuncia-se “Quianti”).
Em linhas gerais, Chianti está localizada entre as cidades de Florença (Firenze), Siena e Arezzo, na Toscana — uma das áreas mais renomadas para a produção de vinhos na Itália e um destino turístico de referência mundial.
Acredita-se que o nome da região seja derivado da palavra etrusca “Clante”, uma vez que, antes da ascensão do Império Romano, era esse povo, justamente, que habitava a região.

Chianti está localizada na região central da Toscana, onde são produzidos vinhos tintos elegantes.
A história dos vinhos Chianti
Quando falamos em história dos vinhos Chianti, os primeiros indícios são, justamente, a cultura agrícola da população etrusca (900 a.C.). Naquela época, os etruscos investiam em oliveiras e parreiras para a produção de azeite e vinho.
Contudo, o primeiro registro de uma bebida com a denominação Chianti data de 1398 d.C., com a comercialização de exemplares pelo mercador Francesco di Marco Datini. Séculos depois, em 1716, foi criada uma legislação que regulamentava a vinicultura da região, com o estabelecimento de uma das primeiras denominações de origem da história dos vinhos, a Denominazione d’Origine Controlatta (DOC).
- Leia também: O que é a Denominação de Origem Controlada?
Na época, a elaboração dos vinhos Chianti levava, principalmente, a uva autóctone italiana Canaiolo. Somente em 1876 os produtores passaram a produzir exemplares com a uva sangiovese, a principal casta nos vinhos de corte e varietais produzidos na região até hoje.
No século XX, em vista da Diáspora Italiana e da praga filoxera, os vinhos Chianti perderam seu renome, uma vez que o cultivo das uvas foi prejudicado, assim como a inspeção dos métodos de vinificação.
A partir da década de 1960, alguns viticultores da região decidiram fazer testes de vinhos de corte, combinando a uva sangiovese com castas estrangeiras, como a cabernet sauvignon.
Com isso, foram criados os Supertoscanos, que ganharam reconhecimento internacional rapidamente, em vista de sua alta qualidade e de seus produtores renomados, que criaram uma “espécie” de denominação ou certificação para assegurar que suas bebidas são as melhores.
Em 1984, a região recuperou sua tradição e se tornou uma D.O.C.G — Denominazione d’Origine Controlatta e Garantita — atualmente, a classificação mais importante para vinhos italianos.
Hoje, Chiantis são produzidos com cortes da sangiovese e outras uvas autóctones da Itália, como a canaiolo e a colorino. Também é possível elaborá-los com castas como merlot, syrah, cabernet franc e, como mencionamos, cabernet sauvignon, além dos sangioveses varietais.

O vinho italiano Chianti é elaborado com a uva sangiovese e outras castas autóctones italianas, como a canaiolo e a colorino.
Tipos de vinho Chianti
Os vinhos Chianti possuem duas classificações principais: conforme o tempo de envelhecimento ou de acordo com as sub-regiões onde são produzidos.
A subdivisão por tempo de envelhecimento em barricas de carvalho funciona da seguinte forma:
- Chianti: deve estagiar em barrica por um período de, pelo menos, 6 meses;
- Chianti Superiore: deve estagiar em barrica por um período de, pelo menos, 12 meses;
- Chianti Riserva: deve estagiar em barrica por um período de, pelo menos, 24 meses;
- Chianti Gran Selezione: deve estagiar em barrica por um período de, pelo menos, 30 meses. Sendo que essa classificação é válida apenas para o Chianti Classico.
Já a classificação por sub-regiões, como o nome sugere, leva a área em que o vinho Chianti é produzido. São elas: Classico, Coli Fiorentini, Coli Aretini, Coli Senesi, Colline Pisane, Montespertoli, Montalbano e Rufina.
Tipos de Chianti Classico
Os Chianti Classico, especificamente, podem ser categorizados em outras três subdivisões, também de acordo com o tempo de envelhecimento. São elas:
- Chianti Classico Annata: envelhecimento em barricas de carvalho por, pelo menos, 12 meses;
- Chianti Classico Riserva: envelhecimento em barricas de carvalho por, pelo menos, 24 meses;
- Chianti Classico Gran Selezione: envelhecimento em barricas de carvalho por, pelo menos, 30 meses.
Além disso, o Chianti Classico leva em seu rótulo o célebre Gallo Nero (ou galo preto), que se tornou uma referência para identificar exemplares da categoria de alta qualidade.
Características do vinho
Como mencionado anteriormente, os vinhos da categoria são produzidos conforme os critérios de cada D.O.C.G. (denominação de origem controlada e garantida), em linhas gerais, elaborados a partir da uva sangiovese — a exigência é que a bebida contenha, no mínimo, 70% da casta. É por isso que a casta é predominante nos Chiantis.
Aspectos visuais
A coloração é tipicamente rubi de baixa intensidade, podendo apresentar reflexos violetas nos vinhos mais jovens e tons alaranjados ou granada à medida que envelhece. Essa evolução de cor é mais perceptível nos rótulos Riserva e Gran Selezione, que passam por longos períodos de maturação.
Aromas
O bouquet aromático é um dos pontos altos, com notas de frutas vermelhas maduras, como cereja, framboesa e morango que se combinam a nuances florais de violeta e toques herbáceos, frequentemente associados a alecrim e orégano.
Com o envelhecimento, surgem camadas mais complexas, como notas de especiarias, como anis e canela, assim como toques de folhas secas.
Paladar
Na boca, o Chianti apresenta alta acidez, taninos de médios a altos e corpo médio. É um vinho que equilibra frescor e estrutura, com final persistente e sabor que remete tanto à fruta quanto às notas terrosas e minerais do terroir toscano.
Vinhos Chianti no Divvino
O portfólio do Divvino conta com vinhos da categoria. Confira os rótulos e aproveita a experiência!
Cecchi Torrebona Chianti Clássico
O Cecchi Torrebona Chianti Classico D.O.C.G. apresenta coloração vermelho-rubi intensa, que com o envelhecimento evolui para reflexos granada, evidenciando sua aptidão para a guarda. No nariz, revela aromas elegantes de frutas vermelhas doces, como cereja e framboesa, combinados a notas sutis de especiarias e ervas aromáticas que remetem ao terroir toscano.
Em boca, é intenso, persistente e bem equilibrado, com taninos integrados, estrutura ampla e frescor característico da sangiovese, resultando em um final longo e harmonioso. Versátil à mesa, harmoniza com carnes vermelhas grelhadas, massas com molhos à base de tomate, pizzas, queijos curados e pratos de caça, realçando a intensidade e a acidez do vinho.
Cecchi Torrebona Chianti Riserva
O Cecchi Torrebona Chianti Riserva D.O.C.G. é produzido predominantemente a partir de uvas sangiovese cultivadas nos vinhedos históricos da vinícola Cecchi, que desde 1893 atua na região de Chianti. Elaborado com fermentação em tanques de aço inox, apresenta coloração rubi que tende a ganhar reflexos granada com o envelhecimento.
No nariz, exibe um conjunto aromático equilibrado, com frutas vermelhas maduras, notas sutis de especiarias e toques de couro que reforçam sua identidade toscana. Em boca, revela boa estrutura, taninos macios e acidez vibrante, resultando em um vinho harmonioso, persistente e com agradável capacidade de evolução.
Ideal para acompanhar carnes vermelhas grelhadas, massas com molhos, pizzas de sabor intenso, queijos curados e pratos típicos da culinária italiana.
Castellani Tosca Chianti
O Castellani Tosca Chianti D.O.C.G. é elaborado a partir de um corte que de sangiovese, resultando em um vinho equilibrado e com perfil aromático marcante. Apresenta coloração rubi-granada brilhante e aromas de frutas vermelhas maduras, como cereja e framboesa, combinados a notas sutis de especiarias, que remetem a canela e cravo.
No paladar, mostra frescor, taninos macios e boa persistência, entregando um conjunto harmonioso e fácil de apreciar. Acompanha bem massas com molhos à base de tomate, pizzas, carnes brancas grelhadas, queijos semicurados e pratos tradicionais da culinária italiana.
Dicas de harmonização
Quando falamos em harmonização com vinho Chianti, nada melhor do que apostar nos clássicos da culinária italiana para criar uma combinação infalível! Sendo assim, massas à bolonhesa, pizzas — aposte em sabores como marguerita e pepperoni — e pratos à base de carnes vermelhas são ótimas opções. Uma foccacia à base de ervas é perfeita para acompanhamento leve e aromático.
Alguns pratos típicos da Toscana são excelentes opções, tais como:
- Bistecca alla Fiorentina: o corte alto e suculento de carne bovina, temperado apenas com sal grosso e grelhado na brasa, combina perfeitamente com a estrutura e os taninos do Chianti.
- Pici al ragù di cinghiale (massa toscana com molho de javali): o sabor robusto da carne de caça se equilibra com a acidez e as notas terrosas do vinho.

Aposte na culinária italiana para harmonizar com seu vinho Chianti!
Se você estiver apreciando um vinho mais intenso, vale a pena harmonizá-lo com risotos que incluam tomate e queijos de pasta dura, como o parmesão. Rótulos da categoria também combinam super bem com uma tábua de frios bem elaborada.
Queijos curados, como pecorino toscano e parmigiano-reggiano, contam com a salinidade e a textura firme desses queijos contrastam com a fruta e a acidez do vinho. Embutidos artesanais, como salame toscano e prosciutto di Parma, combinam com os taninos, que amaciam os taninos do vinho, realçando os sabores da charcutaria.
Curiosidades sobre o Chianti
O Chianti não é apenas um vinho: ele carrega símbolos históricos e curiosidades que ajudam a contar a história da Toscana e a explicar sua fama mundial. Dois dos mais marcantes são o Gallo Nero e a icônica garrafa envolta em palha, o fiasco. Confira!
A lenda do Gallo Nero
A lenda sobre o Gallo Nero conta que as cidades de Florença e Siena competiam, no século XIII, pelo limite das fronteiras da região. Como solução para a disputa, cada cidade deveria enviar seu cavaleiro mais veloz no primeiro cantar de um galo e, no local exato onde ambos se encontrassem, seria definida a nova divisa.
Enquanto Siena optou por um galo saudável e bem nutrido, Florença escolheu o galo preto e mal alimentado que, em vista da fome, acordou e cantou primeiro. Sendo assim, o cavaleiro florence venceu.

O Gallo Nero é um símbolo icônico dos rótulos Chianti Classico. | Crédito editorial: Simona Bottone
Fiasco: a garrafa de palha
Durante muito tempo, o Chianti foi comercializado em um recipiente bojudo, envolto por uma cesta de palha trançada, conhecido como “fiasco”. A função era dupla: proteger o vidro e facilitar o transporte.

Garrafa “fiasco”, utilizada no envase dos vinhos Chianti antigamente. | Crédito editorial: Diego Mariottini
Embora hoje a maioria dos vinhos seja engarrafada em recipientes de formato bordalês (com bojo cilíndrico), o fiasco ainda é um ícone visual ligado à identidade do Chianti, especialmente no imaginário popular. Alguns produtores continuam utilizando o formato para edições especiais ou como estratégia de marketing.
Chianti no cinema
O Chianti também ganhou espaço na cultura popular. Uma das menções mais famosas está no filme O Silêncio dos Inocentes (1991), quando o personagem Hannibal Lecter cita o vinho ao falar sobre uma de suas “refeições” nada convencionais. Essa referência ajudou a fixar o nome do vinho na mente de milhões de pessoas, especialmente fora da Itália.
O que fazer em Chianti em um dia?
Mesmo com pouco tempo, é possível aproveitar a essência do Chianti e vivenciar sua cultura e sabores.
- Greve in Chianti: comece na “porta de entrada” do Chianti Classico, visitando a Piazza Matteotti e lojas tradicionais como a Antica Macelleria Falorni, açougue do século 18.
- Degustação em vinícola: conheça vinhedos e adegas, experimentando diferentes estilos de Chianti, do jovem ao Gran Selezione.
- Almoço típico: prove pratos como pici al ragù ou pappa al pomodoro, sempre harmonizados com o vinho local.
- Vilarejos medievais: passeie por Castellina ou Radda in Chianti, com ruas de pedra e vistas para os vinhedos.
- Pôr do sol nas colinas: termine o dia admirando a paisagem dourada com uma taça de Chianti.

Uma das dicas de passeios em Chianti é a visita em vinícolas.
O Chianti é um símbolo da Toscana e da tradição italiana, que une história, cultura e um perfil sensorial capaz de conquistar diferentes paladares. Seja em um jantar especial, em um encontro descontraído ou em uma viagem pela região, cada taça traz consigo o sabor e a essência de séculos de dedicação à arte de fazer vinho.
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Flávia
Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!