skip to Main Content
O Que é Vinho Laranja? Saiba Como é Feito E Por Que é Um Sucesso

O que é vinho laranja? Saiba como é feito e por que é um sucesso

Os muitos tipos de vinhos, oriundos de uvas específicas ou do corte de castas (blend), costumam apresentar características particulares advindas de todo o processo de produção. Um dos atributos mais perceptíveis aos sentidos, por exemplo, é a coloração. Entre tantas tonalidades possíveis, há o chamado vinho laranja (ou orange wine, no inglês).

Você já ouviu falar ou vivenciou a experiência de degustar um rótulo com estilo? Neste post, trouxemos detalhes sobre essa bebida que está ganhando notoriedade no mercado dos vinhos novamente. Continue a leitura para conhecê-lo!

O que é vinho laranja?

O vinho laranja é um estilo produzido a partir de uvas brancas vinificadas com as cascas, algo que normalmente só acontece na elaboração de vinhos tintos. Essa técnica dá origem a uma bebida de tonalidade âmbar ou alaranjada, bastante distinta dos brancos tradicionais.

Apesar do nome, o vinho laranja não tem nenhuma ligação com a fruta laranja. A cor surge naturalmente durante a fermentação, quando os pigmentos e compostos presentes nas cascas entram em contato com o mosto por um período prolongado.

O termo também não é uma denominação de origem (como Vinho Verde), ou seja, pode ser utilizado por qualquer país. O nome faz uma referência justamente à cor âmbar que o estilo traz.

O vinho laranja tem esse nome por conta da tonalidade que apresenta.

Origem do vinho laranja

A responsável pela origem do vinho laranja é a uva branca. Tudo começou há mais de oito mil anos, em um país situado entre a Europa e a Ásia, a Geórgia.

Contudo, foi apenas de cinco séculos para cá que produtores, especialmente da região italiana de Friuli-Venezia Giulia, começaram a resgatar essa tradição e aperfeiçoar essa técnica ancestral que dá origem aos vinhos laranjas, cujos cachos de uvas são fermentados inteiros em ânforas de argilas, as qvevri.

Inclusive, “qvevri” é o modo como é conhecido o vinho georgiano, só podendo ser denominado desta maneira os vinhos deste local. 

Tradicionalmente, o vinho laranja é fabricado em ânforas de argilas, as qvevri.

Até meados de 1960, a produção era comum em países como Itália, Eslovênia, Eslováquia, Croácia, Alemanha e Áustria. Dos anos 2000 para cá, esse resgate levou o vinho laranja para diversos cantos do mundo, como Eslovênia, Geórgia, Áustria, França, Estados Unidos, Austrália e África do Sul, ainda que o destaque continue sendo a produção italiana. No Brasil, algumas vinícolas da Serra Gaúcha, também apostam no estilo.

Atualmente, o vinho laranja está presente em diversos países e se consolidou como um símbolo de autenticidade e experimentação. Além de carregar séculos de história, atrai apreciadores em busca de experiências diferentes e mais próximas da tradição artesanal.

Como é feito o vinho laranja?

Com etapas similares às utilizadas para o processamento de um vinho tinto, a criação do vinho laranja começa no vinhedo, a partir da plantação da uva.

A casta mais popular para originá-lo é a sémillon (devido a sua acidez e poder de envelhecimento), mas também é possível encontrar rótulos a partir da trebbiano, pinot grigio e outras uvas da família moscato (moscatel), assim como vinhos laranjas feitos de chardonnay, riesling e gewürztraminer.

Após a colheita e a seleção, a extração do suco é iniciada. A grande diferença, nesse caso, é que, por tradição, é feita a fermentação dos vinhos laranjas.

A técnica é milenar e tem suas origens entre a Europa e a Ásia, especificamente nas regiões da Geórgia e da Armênia. Revestidas internamente com resina, as ânforas são enterradas durante essa etapa — que pode durar de dias a meses.

Outra particularidade essencial é que as cascas das uvas brancas devem permanecer em contato com o mosto pelo período definido pelo enólogo, durante a fermentação, extraindo cor, aromas e taninos.

Em comparação, vinhos brancos passam por vinificação rápida: as uvas são prensadas logo após a colheita e o mosto segue para a fermentação sem cascas nem sementes, diferentemente do laranja.

Finalizada a fermentação, as cascas devem ser separadas do vinho. Na sequência, fica a critério do produtor como se dará o envelhecimento do rótulo, que pode ser feito em barris de carvalho, por exemplo. Entretanto, o processo de produção do vinho laranja também pode ocorrer em tanques de aço inox barris de carvalho. 

Durante a fermentação do vinho laranja, as cascas das uvas brancas não devem ser retiradas.

A utilização de leveduras autóctones, presentes no grão da uva, no vinhedo e na adega, são bem populares na fabricação de vinhos laranjas. A filtração e a clarificação são etapas dispensáveis, mas podem fazer parte da produção.

Só assim será possível chegar à tonalidade da bebida, que pode contar com reflexos cristalinos ou profundos, sejam eles amarelados, dourados ou até mesmo rosados, não apenas alaranjados. 

O resultado desse processo é um vinho que combina o frescor típico dos brancos com a estrutura e a complexidade aromática dos tintos, entregando uma experiência única na taça.

Estilos de vinho laranja pelo mundo

O vinho laranja conquistou espaço em diferentes países, mas suas características variam bastante conforme a região, as uvas utilizadas e as escolhas do produtor. Enquanto alguns lugares preservam métodos ancestrais, outros investem em técnicas modernas e interpretações mais leves. Confira! 

Geórgia

Na Geórgia, o vinho laranja representa a continuidade de uma das tradições mais antigas da vinificação mundial. Evidências arqueológicas apontam que a produção de vinho no país, utilizando cascas, talos e sementes das uvas brancas, remonta a 6 mil a.C. O segredo dessa longevidade está nos próprios qvevri.

Os recipientes são tão importantes que foram reconhecidos pela Unesco como patrimônio cultural imaterial da humanidade em 2013. Cada um é feito manualmente por artesãos que preservam técnicas passadas de geração em geração.

A vinificação em qvevri é realizada no seguinte método:

  • As uvas são prensadas e fermentadas junto com cascas, sementes e, em alguns casos, até os engaços. 
  • Depois, os recipientes são tampados e deixados enterrados por meses, até que o vinho esteja pronto para ser decantado. 
  • O que sobra é usado para destilar a chacha, a aguardente típica do país.

O resultado são vinhos de cor âmbar profunda, com taninos (ao contrário de um branco comum), aromas de frutas secas, como damascos, amêndoas e notas terrosas. 

Qvevri, utilizado para vinificação de vinho laranja na Geórgia.

Os qvevris são fundamentais na vinificação de vinhos laranjas na Geórgia.

Resto do mundo

Fora da Geórgia, o vinho laranja ganhou novas interpretações, adaptadas a diferentes terroirs e tradições de vinificação.

  • Itália: foco em vinhos complexos, muitas vezes envelhecidos em madeira, com notas de especiarias e acidez vibrante. 
  • Eslovênia e Croácia: regiões vizinhas à Itália também preservam métodos artesanais, com vinhos de perfil intenso e grande potencial gastronômico. 
  • França: pequenos produtores exploram o estilo com uvas locais, priorizando leveza e frescor. 
  • Novo Mundo: países como Austrália, Chile, Estados Unidos e Brasil vêm experimentando o método, geralmente com um perfil mais acessível e frutado, ideal para introduzir novos consumidores a esse universo.

Essa diversidade mostra que, embora a técnica seja semelhante, os estilos variam conforme a região, as uvas utilizadas e as escolhas do produtor. O vinho laranja pode ir de rótulos robustos e estruturados a versões leves e refrescantes, ampliando as possibilidades de harmonização e de consumo.

Características do vinho laranja

Para além da tonalidade laranja, esse estilo da bebida, a depender das uvas utilizadas e de todas as outras etapas de produção do vinho, costuma trazer uma presença tânica que remete aos vinhos tintos — inclusive, esse é um dos pontos que diferencia o vinho branco do vinho laranja.

Ao apreciar um vinho laranja, é possível notar maior corpo que um branco, já que eles apresentam uma certa quantidade de taninos. Por isso, à boca, apresenta boa densidade. 

Vinho laranja: harmonização

Ao contrário dos brancos comuns, os laranjas possuem mais corpo e taninos, o que diferencia na harmonização.

Por sua origem georgiana, é pensado para harmonizar com pratos da culinária local, como pães recheados com queijo e carnes, pratos com carne moída e especiarias, além de feijão vermelho temperado com especiarias.

No contexto brasileiro, ele harmonizaria com cozidos de carne vermelha, com uso de especiarias, ou queijos com geleias e temperos.

Pão e carne com especiarias da Geórgia.

Pão e carne com especiarias, oriundo da culinária georgiana, é uma ótima combinação com vinho laranja.

Dúvidas sobre vinho laranja

O vinho laranja ainda desperta curiosidade em quem está começando a conhecer esse estilo. A seguir, reunimos respostas diretas para algumas das perguntas mais comuns, ajudando você a aproveitar ao máximo essa experiência.

Por que o vinho laranja está em alta?

O vinho laranja tem conquistado destaque no universo enológico por reunir tradição, ousadia e por provocar curiosidade. Eis alguns fatores que explicam seu momento ascendente:

  • Resgate histórico: prática ancestral da Geórgia retomada em escala global. 
  • Produção natural: associado a vinhos de baixa intervenção e autenticidade. 
  • Estilo: combina acidez dos brancos com taninos dos tintos. 
  • Aromas marcantes: nozes, frutas secas, mel, casca de laranja, chá. 
  • Apelo visual: cor âmbar, alaranjada, diferenciada que desperta curiosidade. 
  • Conversa e engajamento: estilo que chama atenção e gera interesse entre consumidores.

Como devo tomar vinho laranja?

O vinho laranja é um gastronômico, ideal para ser consumido em harmonizações e combinações para deixá-lo mais rico. Ele deve ser servido levemente resfriado, geralmente entre 12 °C e 14 °C — um pouco mais quente que os brancos tradicionais, para valorizar a complexidade aromática.

 Utilize taças tintas com bojos mais largos, pois permitem que os aromas se expressem melhor.

Vinho laranja tem tanino? 

Sim. Diferente dos vinhos brancos convencionais, o vinho laranja apresenta taninos, resultado do tempo de maceração do mosto com cascas e sementes (processo típico dos tintos).

A intensidade varia de acordo com o tempo de contato das cascas com o líquido: rótulos de maceração curta tendem a ser um pouco mais leves, enquanto os de longa maceração podem apresentar taninos firmes e estrutura marcante.

Vinho laranja sobre mesa com queijo e tábuas.

O tanino do vinho laranja é resultado do processo de vinificação similar aos tintos.

Qual é a uva do vinho laranja?

O vinho laranja não depende de uma única uva. Pode ser produzido a partir de diversas variedades brancas. O que define o estilo é o processo de maceração com cascas, e não a casta utilizada. No entanto, além de castas já mencionadas, como sémillon, outras populares são rkatsiteli (na Geórgia), ribolla gialla (na Itália) ou malvasia (em Portugal).  

Qual a diferença entre vinho laranja e rosé? 

São estilos distintos tanto na origem quanto no resultado. O rosé é feito com uvas tintas ou a branca pinot gris, que ficam em contato breve com as cascas, o que garante uma coloração rosada delicada. 

Já o vinho laranja é produzido com uvas brancas, que passam por longa maceração com cascas e sementes, adquirindo cor âmbar e taninos perceptíveis.

Onde comprar vinho laranja? 

Se você ficou curioso para experimentar esse estilo único, a boa notícia é que já é possível encontrar ótimos rótulos no Brasil. No divvino.com.br, você encontra vinhos laranjas de diferentes países para degustar e conhecer o tipo. Clique na imagem abaixo e confira as opções!

Banner final vinho laranja.

Flávia

Sommelier internacional pela FISAR/UCS, pós-graduada em Marketing e Negócios do Vinho pela ESPM. Há 10 anos atuando no mercado e através de diversos canais de mídia especializados no mundo do vinho. Propago conhecimento para enófilos e amantes da bebida. Falar sobre vinhos é um prazer!

Back To Top Pular para o conteúdo